Por José Armando Vannucci
Na última semana a imprensa esteve mobilizada para acompanhar “muito de perto” o caso de Santo André. Por vários dias, em cárcere privado, um jovem atormentado pela dor do fim de relacionamento seqüestrou a ex-namorada e mais três jovens e, dia após dia, ganhou destaque na mídia, como numa novela com capítulos diários. Os programas mais sensacionalistas fizeram a festa e não economizaram nas opiniões baratas, tomadas aéreas e muito blá-blá-blá. A audiência, como na última semana de uma novela onde todos querem saber como acabará a mocinha, disparou e fez a alegria de muitos produtores. Abusos aconteceram, mas abordar o assunto era inevitável, afinal trata-se de uma situação que comove o público. Na TV acredito que a melhor abordagem aconteceu na Globo News durante o programa “Entre Aspas”, que ouviu um psiquiatra e uma jurista sobre os motivos que levam a essa situação e as conseqüências desses crimes. No rádio o “Jornal Jovem Pan” entrevistou psicoterapeutas para falar sobre a importância de se administrar um não no relacionamento.
O final da tarde de sexta-feira foi intenso. O roteiro da novela saiu do controle e a mocinha não acabou bem nessa história. Mais um prato cheio para a imprensa e, pelo horário, para os noticiários policiais da TV. Sangue, imprudência dos negociadores … Cada emissora apostou em seu estilo, mas todas foram buscar na narração radiofônica os elementos para a tragédia e, num determinado momento, já não sabia mais a quem estava assistindo, tamanha a semelhança nas imagens, tons dos repórteres e gritos dos âncoras. E como já era previsto, as audiências do “SP Record” e Brasil Urgente” dispararam.
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