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Entrevista com Letícia Sabatella

16:04 Postado por gustavo leão
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Com o rosto empinado para os cabelos cacheados não cobrirem seu rosto, Letícia Sabatella chama atenção pela postura ereta e a voz quase sussurrada. Essa serenidade nos mínimos gestos vai ser utilizada com malícia pela atriz na composição de sua primeira vilã na TV.
Quando começa a destilar as características mais perversas de Ivone, os olhos brandos dessa mineira começam a dar lugar a um semblante mais duro, impregnado das futuras maldades da médica de Caminho das Índias, próxima trama das oito da Globo. Ao chamá-la para a novela, Glória Perez assumiu que estava na dúvida entre duas personagens para a atriz. Foi a deixa que Letícia precisava.

"Avisei logo que estava cansada de personagens carolas, sofredoras, lacrimosas. Já era orgânico. Não agüentava mais fazer gente que reza", alivia-se a atriz.

Imediatamente Glória retrucou: "ah, é? Então você vai se surpreender com o que eu tenho para você", lembra Letícia.

Apesar dos olhos negros e amendoados da atriz, que lembra os traços da maioria das indianas, a personagem Yvone não tem parentescos com o núcleo da Índia. "Adoraria até fazer uma indiana, pois elas têm uma cultura com a qual me identifico. Mas eu precisava voltar com algo muito diferente", avalia.

A disparidade com papéis anteriores de Letícia na TV vai ser evidente. Quase uma psicopata, a personagem Ivone assombra com uma ambição e frieza desmedidas. Seu principal objetivo é destruir a vida da personagem Silvia, de Débora Bloch, amiga de infância de Yvone. Para isso, se envolve com Raul (Alexandre Borges), um empresário do ramo farmacêutico, que é marido da rival.

O triângulo amoroso começa a desestabilizar a relação entre os personagens de Débora e Alexandre. "A Yvone é muito cobra. Ela vai fazer com que Raul jogue tudo para o alto e fuja com ela", adianta Letícia, que terá diversas seqüências gravadas em Dubai, a cidade mais glamurosa dos Emirados Árabes Unidos e um dos maiores centros do luxo e ostentação na atualidade.

Para dar veracidade ao perfil desequilibrado e ganancioso da personagem, Letícia se guia pelas orientações de uma terapeuta, que decifra com a atriz a personalidade de Yvone. De tão ardilosa, a maquiavélica de jaleco branco não se contenta apenas com o marido de sua inimiga. Também faz tudo para conseguir roubar sua fortuna. "Ela realmente não é nada boa. Mau-caratismo é pouco", salienta Letícia.

Na verdade, a vilã é uma espécie de oásis do mal na carreira da atriz de 36 anos, que sempre foi pontuada por tipos quase sempre aprazíveis na TV. O último deles foi a melancólica Ana de Desejo Proibido, onde Letícia também contracenava com Alexandre Borges.

Desde que estreou na TV, com o especial Os Homens Querem Paz, em 1991, na Globo, Letícia construiu figuras ternas. Até mesmo sua estréia em novelas, em O Dono do Mundo, no mesmo ano, onde viveu a prostituta Taís, sua personagem era contornada por uma suavidade. "Sou assim na vida", argumenta a atriz.

A faceta mais destemida de Letícia se desnuda no engajamento político da atriz, que sempre atuou a favor da reforma agrária, do Movimento dos Sem-Terra e protestou contra a transposição do Rio São Francisco, por exemplo.

Com um discurso firme diante das desigualdades, Letícia chegou a tomar decisões drásticas em prol de ideologias. Uma delas foi deixar de fazer campanhas publicitárias para não se vincular a marcas e produtos. "Preciso preservar minha imagem. Troco o dinheiro pela minha paz", ressalta.

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